O Gato e sua Vesícula Biliar: O que é normal no ultrassom?
Em gatos, a presença de "lama biliar"e alterações no vesícula e ducto biliar podem sugerir obstrução ou inflamação, sendo essencial correlacionar os achados ultrassonográficos com os sinais clínicos e exames laboratoriais para um diagnóstico preciso.
GASTROINTESTINAL


Particularidades do Sistema Biliar e Vesícula Biliar em Gatos
A ultrassonografia é uma ferramenta valiosa para avaliar o sistema biliar felino, permitindo identificar características normais e alterações patológicas. A seguir, detalhamos as particularidades deste sistema em gatos:
Vesícula Biliar Normal:
Forma e Conteúdo: A vesícula biliar normal em gatos apresenta-se tipicamente oval a piriforme, localizada à direita da linha média. O conteúdo é anecoico, indicando a presença de bile fluida.
Paredes: As paredes da vesícula biliar são finas, com uma espessura inferior a 1 mm. Esta é uma característica importante, pois o espessamento da parede é um achado anormal.
Anomalias Congênitas: É relativamente comum (cerca de 25% dos gatos) encontrar uma vesícula biliar bilobada, uma anomalia de desenvolvimento que geralmente não tem significado clínico. Pode variar desde uma leve separação até uma divisão completa, com dois ductos císticos separados, mas que drenam para o mesmo ducto biliar.
Achados Anormais na Vesícula Biliar:
Espessamento da Parede: O espessamento da parede da vesícula biliar, definido como uma espessura superior a 1 mm, é considerado anormal em gatos. Pode ser causado por:
Edema: O edema da parede da vesícula biliar pode apresentar um aspecto de "pele de cebola" na ultrassonografia, com uma camada hipoecoica entre duas camadas hiperecogênicas. Este edema pode ser associado a colecistite aguda, doenças não biliares como insuficiência cardíaca congestiva direita, hipoproteinemia, hipertensão portal, reações anafiláticas ou até mesmo ao uso de dexmedetomidina.
Inflamação Crônica (Colecistite): Um espessamento mais difuso e irregular da parede da vesícula biliar pode indicar colecistite crônica, frequentemente associada à colangite.
Inflamação Adjacente: A inflamação de tecidos próximos, como no caso de linfoma difuso, também pode levar ao espessamento da parede da vesícula biliar.
Doenças Imunomediadas: Doenças como anemia hemolítica imunomediada podem causar espessamento da vesícula biliar.
Artefato: A presença de líquido entre a parede da vesícula biliar e a fossa hepática pode simular edema da parede, portanto, é importante avaliar a vesícula em várias janelas.
Lama Biliar: A presença de material ecogênico dependente (lama biliar) na vesícula biliar é menos comum em gatos do que em cães. Em gatos, a presença de lama biliar pode ser um achado mais significativo, associado a níveis elevados de enzimas hepáticas e bilirrubina. Estudos indicam que gatos com lama biliar podem ter maior probabilidade de apresentar culturas de bile positivas. No entanto, também existem estudos que relatam a presença de lama biliar em gatos saudáveis, indicando que a interpretação desse achado deve ser feita em conjunto com outros sinais clínicos.
Mucocele: A formação de mucocele na vesícula biliar é extremamente rara em gatos, devido à menor quantidade de glândulas secretoras de mucina em comparação com os cães.
Ducto Biliar:
Ducto Biliar Normal: O ducto biliar normal em gatos é visualizado ventralmente à veia porta, com um diâmetro inferior a 4 mm.
Ducto Biliar Anormal:
Dilatação: Um ducto biliar com diâmetro superior a 5 mm é considerado dilatado e pode ser um sinal de obstrução. A dilatação pode ser acompanhada de dilatação dos ductos intra-hepáticos.
Espessamento: O espessamento das paredes do ducto biliar, juntamente com um trajeto tortuoso, pode indicar inflamação (colangite).
Obstrução: A obstrução biliar pode ser causada por tampões de bile, neoplasias, cálculos biliares ou pancreatite. A obstrução pode resultar na dilatação do ducto biliar e dos ductos intra-hepáticos. É importante notar que gatos com obstruções anteriores podem apresentar dilatação permanente dos ductos biliares, mesmo após a resolução do problema.
Colangite:
A colangite, uma inflamação dos ductos biliares, está frequentemente associada a espessamento da parede da vesícula biliar, presença de lama biliar ou cálculos e dilatação do ducto biliar. O parênquima hepático pode apresentar alterações variáveis.
A colangite pode ser supurativa ou linfocítica, com necessidade de colecistocentese para confirmação.
Considerações Importantes:
A ultrassonografia é uma ferramenta sensível, mas não específica. É fundamental correlacionar os achados com o exame físico, resultados laboratoriais e outros exames complementares.
O uso do Doppler colorido pode ajudar a diferenciar o ducto biliar dos vasos sanguíneos, pois o ducto biliar não apresenta fluxo sanguíneo.
Em resumo, a avaliação ultrassonográfica do sistema biliar felino requer atenção aos detalhes, como a espessura da parede da vesícula biliar, a presença de lama biliar, o diâmetro e a aparência do ducto biliar, e a possível associação com outras condições como colangite ou obstrução biliar.

